Flordelis: questiona ou adora': série documental analisa todos os ângulos do assassinato do pastor Anderson
Logo abriu duas frentes de trabalho: além da cobertura a do assassinato em si, também mergulhou do passado de Flordelis e de Anderson. Sentia-se incomodada com alguns buracos na trajetória do casal.
— Eles são muito misteriosos. Desde o início, tive curiosidade em desvendar essa família e esses dois personagens principais. Vi muitas lacunas e incompatibilidades — diz a repórter. — Por exemplo, na data em que eles diziam ter se casado, o Anderson era menor de idade. Ninguém nunca havia questionado isso, nem na igreja.
Flordelis está no título, mas Anderson é elemento tão importante quanto a mulher na produção. Entender o contexto da entrada dele na vida dela e seu modus operandi no império é fundamental para entender quem ela é. Os dois viviam numa simbiose, em casa, na Igreja e, principalmente, no meio político.
— Quando Flordelis se elegeu, teve muita dificuldade de circular em Brasília — diz Thiago Prado. —Tento mostrar como o Anderson é o grande responsável pelo mandato dela.
Desafio de contar mais de uma versão
O assassinato que colocou Flordelis e sua grande família nas manchetes aconteceu há pouco tempo para os parâmetros dos true crime, que usualmente mergulha em crimes com mais distanciamento histórico. “Flordelis: questiona ou adora” começou a ser discutida em 2020, um desafio ainda maior para a produção, já que, na época, nenhum julgamento ainda havia ocorrido.
— A historia continuava acontecendo enquanto a gente ia filmando. Íamos adaptando o nosso roteiro com todas as revelações inesperadas e reviravoltas — diz Gustavo Mello, da Boutique Filmes, que produziu a série. — Havia o desafio gigantesco de manter o extremo rigor e uma visão respeitosa dos personagens retratados. Temos uma história familiar com muitas versões. Nosso foco era trazer visão humana e não reforçar cobertura sensacionalista.
Convencer a família a dar depoimentos, principalmente a parte que sempre acreditou na inocência de Flordelis (como Rafaela, na foto, neta biológica dela, filha de Simone, que será julgada também na segunda-feira), foi outro desafio da equipe.
— Eles acham que ela foi muito massacrada, principalmente por canais de YouTube — diz a repórter Carolina Heringer. — Ficamos incomodados enquanto não conseguimos a participação deles. Nunca foi a intenção contar apenas uma versão da historia. Aprendi uma coisa como repórter de polícia: tudo sempre tem mais de um lado, por mais banal que um episódio pareça.
Todos esses lados contemplados, diz Mariana Jaspe, faz com que a série seja “zero opinativa”:
— Por ser uma história atual, tivemos muito cuidado para não estabelecer verdades. Não tecemos opiniões.
Para ouvir
Junto com a série documental, o Globoplay lança um podcast, disponível em todas as plataformas de áudio, apresentado por Leandro Neko e Jeska Grecco, com análises e detalhes dos bastidores do trabalho feito pela produção. A roteirista e diretora Mariana Jaspe, por exemplo, foi uma das entrevistadas. Carolina Heringer e o editor de política do GLOBO, Thiago Prado, também estão na lista.