'Temos que pagar, todos os envolvidos': há 35 anos, Cuca reconhecia participação em violência sexual na Suíça
Declaração dada à imprensa gaúcha diverge de tom adotado por ele durante apresentação de sua passagem relâmpago pelo Corinthians
Se durante a apresentação que precederia sua passagem relâmpago pelo Corinthians o técnico Cuca afirmou categoricamente não ter participado do estupro a uma menina de 13 anos em Berna, na Suíça, em 1987 o tom adotado pelo então jogador do Grêmio à imprensa gaúcha converge com esta versão. Em entrevista ao jornal Zero Hora, publicada em 31 de agosto daquele ano, época do fato, o então atleta, que havia acabado de deixar a cadeia, disse que ele e todos os envolvidos tinham que pagar pelo crime. "Não sei se foi um ato infantil, um passo em falso", definiu. – Jamais pensei que uma coisa assim pudesse acontecer comigo. Não sei se foi ato infantil, um passo em falso, mas é difícil julgar os 50 dias em poucos minutos. Só posso garantir que isso nunca se repetirá. A tensão e a angústia quase me mataram. Se tivesse que ficar preso, eu preferia morrer. Eu pensava na minha mulher, quase nunca dormia – disse à época. – Passei dez dias sem falar nada e só me acalmava com injeções e sedativos. Foi um longo martírio de reflexão... tive medo de ficar traumatizado sem saber qual a reação das pessoas, dos torcedores, dos dirigentes. Estou de braços abertos para qualquer decisão. Temos que pagar, todos os envolvidos. Não adianta separar menor ou maior participação.
Cuca foi apresentado no Corinthians no último dia 21 de abril, já sob forte resistência de parte da torcida, que não queria o treinador condenado por violência sexual à frente da equipe. Comandou o Timão por apenas dois jogos – uma derrota para o Goiás e uma vitória sobre o Remo – até não resistir à pressão e deixar voluntariamente o cargo: "um pedido da família". Quando chegou ao Parque São Jorge, ele foi questionado sobre o caso de Berna e alegou inocência. – Esse é um tema delicado, um tema pessoal meu. Eu faço questão de falar sobre ele, e vou tentar ser o mais aberto possível quanto a isso, quanto ao que me cabe – disse. – Tenho vaga lembrança de tudo o que aconteceu porque foi há muito tempo. Nessa vaga lembrança que tenho, eu tinha 20 e poucos anos na época. Nós iríamos jogar uma partida, subiu uma menina ao quarto, o quarto era o que eu estava junto com outros jogadores. Era um quarto duplo. Essa foi a minha participação nesse caso. Eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada. O agora ex-treinador corintiano disse ainda que a vítima não o reconheceu na época do crime e que sequer chegou a tocá-la. "Nunca toquei indevidamente uma mulher". Parte do processo que condenou ele, Henrique Arlindo Etges, Eduardo Hamester e Fernando Castoldi, no entanto, aponta que, não apenas a menina o reconheceu, como foi encontrado sêmen dele em seu corpo, conforme mostrou o Jornal Nacional.
– Se a vítima disse que eu não estava e eu juro por Nossa Senhora, que eu amo, que eu não estava, como é que eu posso ser condenado pela internet? O mundo mudou, eu sei disso, sei que a mulher tem uma autodefesa maior, e eu quero fazer parte disso. Eu sou pai, sou avô, sou marido, sou filho. Quero poder cada vez mais ajudar – disse no dia da apresentação. – Dizem que eu devo uma desculpa a sociedade. Por que eu devo uma desculpa? Dois anos e meio depois desse caso eu fui jogar ali do lado, na Espanha, nunca teve consequência nenhuma. A vida mudou, mudou para melhor. Essa causa eu quero abraçar, até para a proteção da minha família. Tudo isso machuca muito, mas do fundo do meu coração, pode ter protesto, pode ter o que for, não é maior do que a vontade que eu tenho de estar aqui.